segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Não é confortável votar em uma época em que a fraude faz parte da ordem de todos os dias,

mas não consigo vislumbrar um horizonte revolucionário tão cedo na história que possibilite superar o modo de produção captalístico e a democracia burguesa, pois se os nossos sonhos não cabem nas urnas, hoje cabem os nossos pesadelos, votar nulo ou não votar na prática é o mesmo que votar no bolsonarismo, então se alguém tem uma solução alternativa possível no atual contexto no nível molar, que mostre que é viável, por favor.

                                   


sexta-feira, 24 de julho de 2020

“Não ser de esquerda é como um endereço postal. Parte-se primeiro de si próprio, depois vem a rua em que se está, depois a cidade, o país, os outros países e, assim, cada vez mais longe. Começa-se por si mesmo e, na medida em que se é privilegiado, costuma-se pensar em como fazer para que esta situação perdure”.

Já “ser de esquerda”, seria o contrário. “É perceber… É um fenômeno de percepção. Primeiro, vê-se o horizonte e sabe-se que não pode durar, não é possível que milhares de pessoas morram de fome. Isso não pode mais durar. Não é possível esta injustiça absoluta. Não em nome da moral, mas em nome da própria percepção”.


“Ser de esquerda é começar pela ponta. Começar pela ponta e considerar que estes problemas devem ser resolvidos”.
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(Abecedário Deleuze).

terça-feira, 21 de julho de 2020

Antifascismo não é uma idenidade,

mas um modo de vida. É preciso ação, estratégia, tática. A história mostra como só a luta coletiva derrotou o fascismo. Passada a euforia de se autodeclarar antifascista, agora precisamos nos organizar para sair do individualismo e criarmos nossas matilhas, nossos grupos, nossas tribos. Guerras híbridas necessitam de máquinas de guerra híbridas. Para resistirmos vamos ter que ser criativos, colocar nossos devires-minoritários em movimento criando alianças entre os modos de vida antifascistas em agenciamentos coletivos.

sábado, 18 de julho de 2020

"O antifascismo cotidiano aplica uma visão antifascista a qualquer tipo de interação com os fascistas, todos os dias ou de qualquer outra forma. É se recusar a aceitar a perigosa noção de que homofobia é apenas 'opinião' de alguém que a tem direito. É se recusar a aceitar a oposição à ideia básica de 'vidas negras importam' como um simples desacordo político. Uma perspectiva antifascista não tem tolerância pela intolerância. Não 'concorda em discordar'. Para aqueles que argumentam que isso não nos faria melhor que os nazistas, devemos ressaltar que nossa crítica não é contra a violência, a incivilidade, discriminação ou interromper discursos em abstrato, mas contra aqueles que o fazem a serviço da supremacia branca, do héteropatriarcado, da opressão de classe e do genocídio. O ponto aqui não é a tática; é a política". (ANTIFA - O Manual Antifascista, Mark Bray).

sexta-feira, 17 de julho de 2020

"Os antifascistas não devem se preocupar apenas com aqueles que se organizam em nome da supremacia branca e aqueles que casualmente pregam o status-quo racista, mas também com aqueles que nunca dizem nada. Os regimes fascistas prosperam com o apoio generalizado, ou pelo menos consentido, cultivando o orgulho e o medo da perda de uma variedade de identidades, privilégios e tradições. Um dos mais importantes no contexto do ressurgimento da extrema-direita nos EUA é a branquitude". (ANTIFA - O Manual Antifascista, Mark Bray).

quinta-feira, 16 de julho de 2020

"A única solução, a longo prazo, para a ameaça fascista é minar seus pilares de força na sociedade que são fundamentados não apenas na supremacia branca, mas também na 'meritocracia', heteronormatividade, patriarcado, nacionalismo, transfobia, dominação de classe e muitos outros. Esse objetivo de longo prazo aponta para as tensões que existem na definição do antifascismo, porque em certo ponto destruir o fascismo é na verdade promover uma alternativa revolucionária socialista (na minha opinião antiautoritária e não hierárquica) a um mundo de crise, pobreza, fome e guerra que alimentam a reação fascista". (ANTIFA - O Manual Antifascista, Mark Bray).

quinta-feira, 5 de março de 2020

Embaixo & Encima

Os carros tão rápidos lá embaixo
Nós tão devagar aqui em cima

Sinal vermelho lá embaixo
Sinal verde aqui em cima
Os carros tão devagar lá embaixo
Nós tão rápidos aqui em cima

Sinal verde lá embaixo
Sinal vermelho aqui em cima
Os carros tão barulhentos lá embaixo
Nós tão silenciosos aqui em cima

Sinal amarelo lá embaixo
Sinal verde aqui em cima
Os carros tão silenciosos lá embaixo
Nós tão barulhentos aqui em cima

Engarrafamento lá embaixo
Passagem livre aqui em cima
Pé no freio lá embaixo
Pé no acelerador aqui em cima
Ponto morto lá embaixo
Quinta marcha aqui em cima

Fim da linha.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Namore alguém que esteja na militância junto de você,

que fortaleça o seu engajamento, que apoie os seus corres, que ande de mãos dadas com você nas manifestações, que esteja na luta, que assuma o compromisso contra o fascismo, que potencialize a sua revolta, não aceite menos do que isso...

Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

"Há uma velha ilusão chamada bem e mal. A roda dessa ilusão girou, até agora, em torno de videntes e astrólogos.

Outrora, se acreditava em adivinhos e astrólogos: por isso acreditava-se: 'Tudo é destino: tu deves, pois tem de!'.

Então se desconfiava de todos os adivinhos e astrólogos: por isso acreditava-se: 'Tudo é liberdade: tu podes, pois queres!'.

Ó meus irmãos, sobre as estrelas e o futuro  houve apenas ilusão e não conhecimento até agora: por isso, sobre bem e mal houve apenas ilusão e não conhecimento até agora!"

(Nietzsche, Assim Falou Zaratustra - um livro pra todos e pra ninguém, "Das velhas e novas tábuas",  1885, tradução de Paulo César de Souza).

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Por um Camus menor,

é preciso criar uma língua dentro da linguagem camusiana, potencializando devires minoritários quase imperceptíveis, produzindo assim uma torção, criando dobras na sua escritura para dizer com ele o que ele não disse, desterritorializando seus devires de escritor e romancista e contista e dramaturgo e ensaísta e jornalista etc. em uma perspectiva molecular, fazendo vazar no seu pensamento novas potências diferentes ainda pouco experimentadas na atualidade, como diriam Deleuze e Guattari em "Kafka: por uma literatura menor" (1975).


sábado, 11 de janeiro de 2020

A guerra começou, onde está a guerra?

"A guerra começou. Onde está a guerra? Fora das notícias em que se deve acreditar e dos anúncios que se deve ler, onde encontrar os sinais do absurdo evento? Ela não está nesse céu azul sobre o mar azul, nesses cantos estridentes de cigarras, nos ciprestes das colinas. Não é esse recente aumento de luz nas ruas de Argel.

Queremos acreditar nela. Procuramos seu rosto e ela nos recusa. Somente o mundo é rei de seus rostos magníficos. 

Ter vivido no ódio dessa besta, tê-la diante de si e não saber reconhecê-la. Tão poucas coisas mudaram. Mais tarde, sem dúvida, surgirão a lama, o sangue, a imensa repugnância. Mas por hoje provamos que o início das guerras é parecido com os princípios da paz: o mundo e o coração os ignoram".

(Albert Camus, Cadernos, 1939-42, "A guerra começou, onde está a guerra?", tradução de Raphael Araújo e Samara Geske).