segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O cara mais punk que eu já conheci não tinha moicano,

não tinha coturno, não tinha piercing, não tinha banda, não tinha tatuagem, nem roupa rasgada, não tinha pose, nem caras-e-bocas, usava camisa de botão, calça jeans padrão, óculos quadrado e cabelo penteado, mas quando entrava na sala, parecia uma metralhadora revolucionária, com uma potência extraordinária, a cada palavra a gente mudava, se inquietava, questionava, hackeava o sistema e a cada aula a gente voltava pra casa com a vida transfigurada...

sábado, 14 de outubro de 2017

Deleuze e os signos.

Aquário: devir-minoritário
Peixes: bloco de sensações
Áries: modo de subjetivação capitalístico
Touro: plano de imanência
Gêmeos: diferença & repetição
Câncer: devir-mulher
Leão: ritornelo
Virgem: anti-édipo
Libra: molar & molecular
Escorpião: rizoma
Sagitário: esquizoanálise
Capricórnio: desterritorialização

sábado, 22 de julho de 2017

O engajamento tem os seus espaços de fuga,

os momentos em que percebemos que mesmo quem passa o dia postando, por exemplo, sobre o machismo do dia-a-dia, frequentemente nos bastidores da vida podem rir de piadas falocêntricas ou compartilhar ideias patriarcais, ou seja, qualquer ideia de uma militância purista e isenta de contradições estará equivocada, mas isso nem sempre é perceptível, pois às vezes as pessoas se mostram para se ocultarem...

sexta-feira, 19 de maio de 2017

"E despreza-se um homem que sente ciúme de sua mulher, porque isso testemunha que não a ama seriamente e que alimenta má opinião de si ou dela: digo que não a ama seriamente; pois, se nutrisse um verdadeiro amor por ela, não teria a menor inclinação para dela desconfiar; mas não é a ela que propriamente ama, mas somente o bem que imaginava consistir em sua posse exclusiva; e não temeria perder este bem, caso não julgasse que é indigno dele ou então que sua mulher é infiel. Além disso, esta paixão relaciona-se apenas a suspeitas e desconfianças, pois não é propriamente ser ciumento esforçar-se por evitar qualquer mal, quando se tem justo motivo de receá-lo" (Poderia ser Simone de Beauvoir, mas é René Descartes em "As Paixões da Alma" em 1649).

quinta-feira, 18 de maio de 2017

"Digno de espanto, se bem que vulgaríssimo, e tão doloroso quanto impressionante, é ver milhões de homens a servir, miseravelmente curvados ao peso do jugo, esmagados não por uma força muito grande, mas aparentemente dominados e encantados apenas pelo nome de um só homem cujo poder não deveria assustá-los, visto que é um só, e cujas qualidades não deveriam prezar porque os trata desumana e cruelmente." [Étienne de La Boétie, Discurso Sobre a Servidão Voluntária, 1549].

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Entrevista com Antonio Candido:

"O senhor é socialista?"
"Ah, claro, inteiramente.
Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo.
E não é paradoxo.
O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo.
Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o
chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo.
Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser
explorado.
Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo... tudo isso.
Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças.
Coisas que hoje são banais.
Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias... tudo é conquista do socialismo."

Antonio Candido de Mello e Souza.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

"Ele pode estar olhando as suas fotos. Neste exato momento. Porque não? Passou-se muito tempo. Detalhes se perderam. E daí? Pode ser que ele faça todas as coisas que você faz. Escondida. Sem deixar rastro nem pistas. Talvez ele faça aquela cara de dengoso e sinta saudade do quanto você gostava disso. Ou percorra trajetos que eram seus, na tentativa de não deixar que você se disperse das lembranças. As boas. Por escolha ou fatalidade, pouco importa, ele pode pensar em você. Todos os dias. E ainda assim preferir o silêncio. Ele pode reler seus bilhetes, procurar o seu cheiro em outros cheiros. Ele pode ouvir as suas músicas, procurar a sua voz em outras vozes. Quem nos faz falta acerta o coração como um vento súbito que entra pela janela aberta. Não há escape. Talvez ele perceba que você faz falta. E diferença. De alguma forma, numa noite fria. Você não sabe. Ele pode ser o cara com quem passará aquele tão sonhado inverno em Paris. Talvez ele volte. Você confia nele? Ou não."