"Não existe verdade alguma que não traga consigo um travo de amargura. Nesse caso, por que espantar-se de que eu seja capaz de amar mais do que nunca a fisionomia desta terra quando estou junto a seus homens mais pobres?". (Camus, Nupcias).
segunda-feira, 1 de janeiro de 2018
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
Tenho fome da tua boca
Tenho fome da tua boca, da tua voz, do teu cabelo,
e ando pelas ruas sem comer, calado,
não me sustenta o pão, a aurora me desconcerta,
busco no dia o som líquido dos teus pés.
Estou faminto do teu riso saltitante,
das tuas mãos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra das tuas unhas,
quero comer a tua pele como uma intacta amêndoa.
Quero comer o raio queimado na tua formosura,
o nariz soberano do rosto altivo,
quero comer a sombra fugaz das tuas pestanas
e faminto venho e vou farejando o crepúsculo
à tua procura, procurando o teu coração ardente
como um puma na solidão de Quitratue.
Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor"
e ando pelas ruas sem comer, calado,
não me sustenta o pão, a aurora me desconcerta,
busco no dia o som líquido dos teus pés.
Estou faminto do teu riso saltitante,
das tuas mãos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra das tuas unhas,
quero comer a tua pele como uma intacta amêndoa.
Quero comer o raio queimado na tua formosura,
o nariz soberano do rosto altivo,
quero comer a sombra fugaz das tuas pestanas
e faminto venho e vou farejando o crepúsculo
à tua procura, procurando o teu coração ardente
como um puma na solidão de Quitratue.
Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor"
sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
Trecho de "Mel & Girassóis" em "Os Dragões não conhecem o paraíso" - Caio F.
Caminhavam assim, lembrando juntos letras de bossa-nova. Ela imitava Nara Leão: se-alguém-perguntar-por-mim. Ele, Dick Farney: pelas-manhãs-tu-és-a-vida-a-cantar. Nada sabiam de punks, darks, neons, cults, noirs. Eram tão antigos caminhando de mãos dadas naquela areia luminosa, macia de pisar quando os pés afundam nela lentamente. Carne de lagosta, creme, neve. Tão bom encontrar você, um cantinho, um violão.
Beijavam-se depois com certa ardência excessiva na porta do bangalô dela. Ou dele, quando ele bebia demais e não segurava, mas isso era tolerável, embora freqüente. Na boca, só uma três vezes. A lua era tão cheia, eles tão tímidos. De língua, uma única. Meio contraídos ― ele tinha uma ponte fixa do lado esquerdo superior; ela, um pino segurando um pré-molar do lado direito inferior. Ele a achava tão digna & superior, ela o achava tão elegante & respeitador. E pensavam: isto é uma historinha de férias, não leva a nada, passatempo. Se ele tivesse amigos por ali, diriam come essa mina logo, cê ta marcando, cara. Se ela tivesse amigas ali, brincariam de bruxas de Eastwick, discutiriam cheiros, volumes, investigariam saldos no talão de cheques. Sem ninguém, na real: ele a deixava ou ela o deixava. Era só, depois iam dormir. Então sonhavam um com o outro no escuro cinco estrelas de seus bangalôs com antena parabólica.
Ela deita de costas na cama, ele pensava, só de calcinhas. Ela tem seios pequenos que ele fecharia dentro das duas mãos, como quem segura duas maçãs daquelas verdinhas. Eu deito por cima dela, afundo a cabeça no seu ombro. Ela passa a mão direita por trás das minhas costas, me lambe na orelha, passa a mão nas minhas costas, vai descendo, arranha sem machucar, ela tem as unhas curtas, até em cima da minha bunda, então começa a descer a minha cueca, eu fico sentindo meu peito apertado contra os seios miúdos dela, enquanto ela continua a descer devagarinho a minha cueca e eu começo a sentir também a pressão do meu pau contra seu umbigo, até a cueca chegar aos joelhos e eu comprimo meu pau contra sua barriga, então ela diz gracinha-gracinha, e quando a cueca chega nos meus tornozelos eu a expulso para o meio do quarto com um pontapé e fico inteiro nu contra ela que está quase inteiramente nua também, porque vou descendo sua calcinha devagar enquanto digo: minha mãe, irmã, esposa, amiga, puta, namorada ― te quero.
Ele vem por cima de mim, ela pensava, enquanto o espero deitada na cama. Ele afunda em cima de mim como um bebê que quisesse mamar no meu seio que então empino, oferecendo o bico duro a ele. Ele passa a mão por trás das minhas costas que arqueio um pouco, para que ele possa me apertar pela cintura, enquanto me afundo mais no corpo dele, e desço suas cuecas devagar até que ele as jogue com um pontapé no meio do quarto ao mesmo tempo em que sua mão na minha cintura desceu minhas calcinhas até jogá-las no meio do quarto. Então nos apertamos inteiramente nus um contra o outro, enquanto ele entra em mim, tão macio, e ele me diz você é a mulher que eu sempre procurei na minha vida, e eu digo você é o homem que eu sempre procurei na minha vida, e nos afogamos um no outro, e nos babamos e lambuzamos da baba da boca e dos líquidos dos sexos um do outro enquanto digo: meu pai, irmão, marido, amigo, macho, príncipe encantado ― te quero.
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
Vivemos em tempos em que a tecnologia facilitaria a democracia direta,
porém, como o acesso à educação e à cultura em um nível abrangente o suficiente ainda está longe de se concretizar, sabemos que no momento atual se o povo pudesse decidir diretamente sobre as principais questões sociais e políticas, provavelmente seria decidido em sua maioria os retrocessos mais conservadores possíveis, entretanto, penso eu que no nível micropolítico o uso das tecnologias como uma forma de exercitar a democracia direta em grupos, ongs, conselhos, entidades de base, comunidades etc. é demasiado válido, mas é uma pena que mesmo nos lugares que se dizem mais democráticos ainda prevaleçam tomadas de decisões autoritárias...
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
O cara mais punk que eu já conheci não tinha moicano,
não tinha coturno, não tinha piercing, não tinha banda, não tinha tatuagem, nem roupa rasgada, não tinha pose, nem caras-e-bocas, usava camisa de botão, calça jeans padrão, óculos quadrado e cabelo penteado, mas quando entrava na sala, parecia uma metralhadora revolucionária, com uma potência extraordinária, a cada palavra a gente mudava, se inquietava, questionava, hackeava o sistema e a cada aula a gente voltava pra casa com a vida transfigurada...
sábado, 14 de outubro de 2017
Deleuze e os signos.
Aquário: devir-minoritário
Peixes: bloco de sensações
Áries: modo de subjetivação capitalístico
Touro: plano de imanência
Gêmeos: diferença & repetição
Câncer: devir-mulher
Leão: ritornelo
Virgem: anti-édipo
Libra: molar & molecular
Escorpião: rizoma
Sagitário: esquizoanálise
Capricórnio: desterritorialização
Peixes: bloco de sensações
Áries: modo de subjetivação capitalístico
Touro: plano de imanência
Gêmeos: diferença & repetição
Câncer: devir-mulher
Leão: ritornelo
Virgem: anti-édipo
Libra: molar & molecular
Escorpião: rizoma
Sagitário: esquizoanálise
Capricórnio: desterritorialização
sábado, 22 de julho de 2017
O engajamento tem os seus espaços de fuga,
os momentos em que percebemos que mesmo quem passa o dia postando, por exemplo, sobre o machismo do dia-a-dia, frequentemente nos bastidores da vida podem rir de piadas falocêntricas ou compartilhar ideias patriarcais, ou seja, qualquer ideia de uma militância purista e isenta de contradições estará equivocada, mas isso nem sempre é perceptível, pois às vezes as pessoas se mostram para se ocultarem...
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