As pessoas mais autoritárias que conheci eram todas contra todo tipo de autoridade,

menos a delas, é claro, por isso ainda prefiro participar de coletivos em que sabemos quem são as lideranças e as suas funções, ainda que temporárias, do que coletivos que são contra as lideranças, mas exercem o poder de forma autoritária e inconfessa de modo velado...

Eu queria escrever no teu corpo todo...

uma declaração no teu coração
um improviso no teu sorriso
um repente nos teus dentes
um rascunho no teu punho

uns cordéis nos teus pés

um conto no teu ombro

um teatro no teu braço

um ensaio nos teus lábios

uma canção nas tuas mãos
uma carta nas tuas nádegas
uma tragédia nas tuas pernas
uma paródia nas tuas costas
um discurso no teu ouvido
um artigo no teu mamilo
um mito no teu umbigo

um editorial na tua boca

uma crônica na tua coxa

um poema no teu pescoço

um aforisma no teu rosto
um dicionário no teu nariz
uma prosa nos teus quadris
uma enciclopédia na tua lombar
uma rapsódia no teu calcanhar
um ditirambo na tua bochecha

uma epopeia na tua orelha
um diálogo nos teus pelos

um drama nos teus dedos

um soneto nos teus seios

uma fábula no teu joelho

uma sátira no teu queixo
um romance no teu cabelo

um haikai no teu cotovelo

uma alegoria na tua virilha
uma narrativa na tua barriga

uma biografia na tua língua

e uma rima na tua vagina

- Tudo tu transforma em Literatura,

me disseram uma vez, há um tempo, como quem diz que a vida, essa que passa assim diante dos nossos olhos todo o tempo, sempre era transfigurada em letras, ainda que nem sempre publicadas, quando as palavras saíam assim de mim sem nenhum esforço e tudo era como se a vida e conexões de frases fossem tudo a mesma coisa, tudo era poesia, conto, romance, do mais simples ao mais complexo da vida, tudo podia se transformar em versos ou prosas que davam um sentido ao viver, mesmo que nem tudo fosse de caso pensado, tudo podia ser anotado, pra no final virar orações, blocos de sensações feitos de palavras, mas hoje em dia tudo mudou e não tenho mais tesão de escrever nada...

eu queria te morder agora

não morder assim pra machucar

mas pra sentir tua carne em meus dentes

e ter a sensação de desejo saciado

como se morder preenchesse uma falta

não uma falta de algo abstrato

mas de algo concreto como a tua pele

que eu precisaria tocar com a boca

pra sentir um arrepio e um gemido

pra saber o prazer de te moder firme

ainda que seja uma leve mordida

mas que seja suficiente pra marcar

e ficar guardada na tua memória

como quem sentiu uma mordida

mas queria mesmo era ser toda devorada

Albert Camus à Maria Casarès, 14 décembre 1949 (Correspondance - 1944-1959)

"Je sais qu’il y a chez tout être une part de solitude où personne ne peut atteindre. C’est la part que je respecte le plus et quand il s’agit de toi, je n’ai jamais essayé d’y toucher ni de l’annexer. Mais dans tout le reste, je sais aussi qu’il n’est pas une de tes douleurs ou de tes joies que je ne puisse partager".

Acredite: não há grandes dores, nem grandes arrependimentos, nem grandes recordações. Tudo se esquece, até mesmo os grandes amores. É o que há de triste e ao mesmo tempo de exaltante na vida. Há apenas uma certa maneira de ver as coisas, e ela surge de vez em quando. É por isso que, apesar de tudo, é bom ter tido um grande amor, uma paixão infeliz na vida. Isso constitui pelo menos um álibi para os desesperos sem razão que se apoderam de nós. Albert Camus (Mersault em "A morte feliz")

Eu tão isósceles

Você ângulo

Hipóteses

Sobre o meu tesão

Teses sínteses

Antíteses

Vê bem onde pises

Pode ser meu coração

Paulo Leminski