sábado, 28 de dezembro de 2019

Em 1949 Camus visitou o Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, que era coordenado por Nise da Silveira. Deixou registrado em seu diário no dia 24 de Agosto o seguinte: "Levanto-me um pouco melhor ainda. Agora a partida foi marcada para sábado. Visitas pela manhã, e volta ao cansaço. A tal ponto que resolvo não almoçar. Às 13:30, Pedrosa e sua mulher vêm buscar-me para ir ver as pinturas dos loucos, no subúrbio, num hospital de linhas modernas e com uma sujeira antiga. O coração se confrange vendo os rostos por trás das grades das janelas. Dois pintores interessantes. Os outros, sem dúvida, têm material para fazer extasiarem-se nossos espíritos avançados em Paris. Mas, na realidade, é tudo feio. Mais impressionante ainda na escultura, feia e vulgar. Fico apavorado ao reconhecer, num jovem médico-psiquiatra do estabelecimento, o rapaz que no início me formulou a pergunta mais tola que já me fizeram em toda a América do Sul. É ele quem decide o destino desses infelizes. Aliás, ele mesmo muito atacado. Porém, fico ainda mais aterrorizado quando ele anuncia que fará a viagem a Paris comigo, no sábado; 36 horas trancado com ele numa cabine metálica, é a última provação.
À noite, jantar em casa dos Pedrosa, com gente inteligente. Chuva forte na volta."


sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

"Se amar bastasse, as coisas seriam simples.

Quanto mais se ama, mais se consolida o absurdo. Don Juan não vai de mulher em mulher por falta de amor. É ridículo representá-lo como um iluminado em busca do amor total. Mas é justamente porque as ama com idêntico arroubo, e sempre com todo o seu ser, que precisa repetir essa doação e esse aprofundamento. Por isso, cada uma delas espera lhe oferecer o que ninguém nunca lhe deu. Em todas as vezes elas se enganam profundamente e só conseguem fazê-lo sentir necessidade dessa repetição. 'Por fim', exclama uma delas, 'te dei o amor'. Não surpreende que Don Juan ria dela. 'Por fim? Não' - diz ele - 'outra vez.' Por que seria preciso amar raramente para amar muito?" (Albert Camus, O Mito de Sísifo - ensaio sobre o absurdo, "O Donjuanismo", p. 83, tradução de Ari Roitman e Paulina Watch).


sábado, 21 de dezembro de 2019

"Quem é cercado pelas chamas do ciúme acaba, tal como o escorpião, voltando contra si mesmo o ferrão envenenado." (Nietzsche, "Assim falou Zaratustra - um livro para todos e para ninguém", "Das paixões alegres e doloridas", 1883).

Nietzsche

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Às vezes as fronteiras entre a Filosofia e a Teologia são muito tênues,

pois até mesmo filosofias ateias materialistas acabam por trabalhar os mesmos temas das teologias em uma linguagem secularizada, mas com conteúdos bastante semelhantes ao delas, talvez nesse sentido é que o Zaratustra de Nietzsche diz que não nos livraremos de Deus enquanto não nos livrarmos da Gramática...


quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Somos atravessados por diferentes devires:

devir-mulher, devir-animal, devir-bicha, devir-negro, devir-criança, devir-revolucionário, devires minoritários, como diziam Deleuze & Guattari; Identidades são ficções que criamos para facilitar a vida prática, esquecendo que, a bem da verdade, tudo flui, como dizia Heráclito; Pela linguagem nos cristalizamos como se existissem sujeitos puros, mas a vida é bem mais do que isso, como dizia Nietzsche.

                                   

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

O capitalismo odeia tudo aquilo que não pode ser identificado, avaliado, rotulado, codificado,

pois o modo de produção capitalístico necessita de identidades para produzir mercadorias. Acho que não há como escapar da identidade o tempo todo, mas de vez em quando conseguimos criar linhas de fuga que fazem vazar a construção de um sujeito-capitalístico, com contra-fluxos de forças traçando rotas que põem os devires-revolucionários em movimento, como diriam Guatarri & Deleuze.

                                          
                                                                Guattari & Deleuze