segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Hoje faz 61 anos que Albert Camus morreu.

Em 1949 Camus visitou a penitenciária do Carandiru, em São Paulo e escreveu em seu Diário:

"Às três horas, levam-me, não sei bem por que, à penitenciária da cidade, 'a mais bela do Brasil'. É 'bela', na verdade, como um presídio de filme americano. A não ser pelo cheiro, o cheiro horrível de homens que se impregna em todas as prisões. Grades, portas de ferro, grades, portas etc. E, de quando em quando, um letreiro: 'Seja bom' e sobretudo 'Otimismo'. Sinto vergonha de um ou dois detentos, aliás privilegiados, que fazem o serviço da prisão. O psiquiatra me chateia com as classificações das mentalidades perversas. E alguém me diz, ao sair, a fórmula ritual: 'Aqui, você está em sua casa' (...) Andrade [Oswald] me informa que, no presídio-modelo, já se viram detentos suicidarem-se batendo a cabeça contra as paredes e apertando a garganta numa gaveta até a asfixia". CAMUS, Albert. Diário de Viagem. Trad. Valerie Rumjanek, Rio de Janeiro: Editora Record, pgs. 98-99, 2004.

Foto: Oswald de Andrade (esquerda) recepciona Albert Camus (ao centro), São Paulo, SP, 1949. Foto: Acervo/Estadão.
Oswald de Andrade (esquerda) recepciona Albert Camus (ao centro), São Paulo, SP, 1949. Foto: Acervo/Estadão.


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Não é confortável votar em uma época em que a fraude faz parte da ordem de todos os dias,

mas não consigo vislumbrar um horizonte revolucionário tão cedo na história que possibilite superar o modo de produção captalístico e a democracia burguesa, pois se os nossos sonhos não cabem nas urnas, hoje cabem os nossos pesadelos, votar nulo ou não votar na prática é o mesmo que votar no bolsonarismo, então se alguém tem uma solução alternativa possível no atual contexto no nível molar, que mostre que é viável, por favor.

                                   


sexta-feira, 24 de julho de 2020

“Não ser de esquerda é como um endereço postal. Parte-se primeiro de si próprio, depois vem a rua em que se está, depois a cidade, o país, os outros países e, assim, cada vez mais longe. Começa-se por si mesmo e, na medida em que se é privilegiado, costuma-se pensar em como fazer para que esta situação perdure”.

Já “ser de esquerda”, seria o contrário. “É perceber… É um fenômeno de percepção. Primeiro, vê-se o horizonte e sabe-se que não pode durar, não é possível que milhares de pessoas morram de fome. Isso não pode mais durar. Não é possível esta injustiça absoluta. Não em nome da moral, mas em nome da própria percepção”.


“Ser de esquerda é começar pela ponta. Começar pela ponta e considerar que estes problemas devem ser resolvidos”.
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(Abecedário Deleuze).

terça-feira, 21 de julho de 2020

Antifascismo não é uma idenidade,

mas um modo de vida. É preciso ação, estratégia, tática. A história mostra como só a luta coletiva derrotou o fascismo. Passada a euforia de se autodeclarar antifascista, agora precisamos nos organizar para sair do individualismo e criarmos nossas matilhas, nossos grupos, nossas tribos. Guerras híbridas necessitam de máquinas de guerra híbridas. Para resistirmos vamos ter que ser criativos, colocar nossos devires-minoritários em movimento criando alianças entre os modos de vida antifascistas em agenciamentos coletivos.

sábado, 18 de julho de 2020

"O antifascismo cotidiano aplica uma visão antifascista a qualquer tipo de interação com os fascistas, todos os dias ou de qualquer outra forma. É se recusar a aceitar a perigosa noção de que homofobia é apenas 'opinião' de alguém que a tem direito. É se recusar a aceitar a oposição à ideia básica de 'vidas negras importam' como um simples desacordo político. Uma perspectiva antifascista não tem tolerância pela intolerância. Não 'concorda em discordar'. Para aqueles que argumentam que isso não nos faria melhor que os nazistas, devemos ressaltar que nossa crítica não é contra a violência, a incivilidade, discriminação ou interromper discursos em abstrato, mas contra aqueles que o fazem a serviço da supremacia branca, do héteropatriarcado, da opressão de classe e do genocídio. O ponto aqui não é a tática; é a política". (ANTIFA - O Manual Antifascista, Mark Bray).

sexta-feira, 17 de julho de 2020

"Os antifascistas não devem se preocupar apenas com aqueles que se organizam em nome da supremacia branca e aqueles que casualmente pregam o status-quo racista, mas também com aqueles que nunca dizem nada. Os regimes fascistas prosperam com o apoio generalizado, ou pelo menos consentido, cultivando o orgulho e o medo da perda de uma variedade de identidades, privilégios e tradições. Um dos mais importantes no contexto do ressurgimento da extrema-direita nos EUA é a branquitude". (ANTIFA - O Manual Antifascista, Mark Bray).

quinta-feira, 16 de julho de 2020

"A única solução, a longo prazo, para a ameaça fascista é minar seus pilares de força na sociedade que são fundamentados não apenas na supremacia branca, mas também na 'meritocracia', heteronormatividade, patriarcado, nacionalismo, transfobia, dominação de classe e muitos outros. Esse objetivo de longo prazo aponta para as tensões que existem na definição do antifascismo, porque em certo ponto destruir o fascismo é na verdade promover uma alternativa revolucionária socialista (na minha opinião antiautoritária e não hierárquica) a um mundo de crise, pobreza, fome e guerra que alimentam a reação fascista". (ANTIFA - O Manual Antifascista, Mark Bray).