Eduardo Galeano - Mulheres.
Mostrando postagens com marcador eduardo galeano. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador eduardo galeano. Mostrar todas as postagens
sábado, 2 de novembro de 2013
A noite/1.
Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.
Marcadores:
A noite/1,
eduardo galeano,
mulheres
sábado, 27 de julho de 2013
O Amor.
Na selva amazônica, a primeira mulher e o primeiro homem se olharam com curiosidade. Era estranho o que tinham entre as pernas.
_ Te cortaram? – perguntou o homem.
_ Não – disse ela-. Sempre fui assim.
Ele a examinou de perto. Se coçou a cabeça. Ali havia uma ferida aberta.
Disse:
_ Não comas banana, nem mandioca, nem fruta alguma que se rache ao amadurecer. Eu te curarei. Deita-te na rede e descansa.
Ela obedeceu. Com paciência tomou a mistura de ervas e deixou que aplicasse as pomadas e ungüentos. Tinha que apertar os dentes para não rir, quando ele dizia:
_ Não se preocupe.
O jogo a agradava, mesmo que começava a cansar-se de viver em jejum e estendida na rede. A memória das frutas lhe enchia a boca d’água.
Uma tarde o homem chegou correndo através da floresta. Dava saltos de euforia e gritava:
_ Encontrei! Encontrei!
_ Acabara de ver o macaco curando a macaca na copa de uma árvore.
_ É assim – disse o homem, aproximando-se da mulher.
Quando terminou o longo abraço, um aroma espesso de flores e frutas, invadiu o ar. Dos corpos, deitados juntos, desprendiam-se vapores e fulgores jamais vistos, e era tanta sua beleza que morriam de vergonha os sóis e os deuses.
Eduardo Galeano, no livro "Mulheres".
![]() |
Eduardo Galeano. |
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Maria Padilha.
Ela é Exu e também uma de suas mulheres, espelho e amante: Maria Padilha, a mais puta das diabas com quem Exu gosta de se revirar nas fogueiras.Não é difícil reconhecê-la quando entra em algum corpo. Maria Padilha geme, uiva, insulta e ri com muitos maus modos, e no fim do transe exige bebidas caras e cigarros importados. É preciso dar a ela tratamento de grande senhora e rogar-lhe muito para que se digne a exercer sua reconhecida influência junto aos deuses e diabos que mandam mais. Maria Padilha não entra em qualquer corpo. Ela escolhe, para manifestar-se neste mundo, as mulheres que nos subúrbios do Rio ganham a vida entregando-se a troco de tostões. Assim, as desprezadas se tornam dignas de devoção: a carne de aluguel sobe ao centro do altar. Brilha mais que todos os sóis o lixo da noite.
Eduardo Galeano, no livro "Mulheres".
![]() |
Maria Padilha |
Marcadores:
eduardo galeano,
maria padilha,
mulheres
Assinar:
Postagens (Atom)