sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

"Se amar bastasse, as coisas seriam simples.

Quanto mais se ama, mais se consolida o absurdo. Don Juan não vai de mulher em mulher por falta de amor. É ridículo representá-lo como um iluminado em busca do amor total. Mas é justamente porque as ama com idêntico arroubo, e sempre com todo o seu ser, que precisa repetir essa doação e esse aprofundamento. Por isso, cada uma delas espera lhe oferecer o que ninguém nunca lhe deu. Em todas as vezes elas se enganam profundamente e só conseguem fazê-lo sentir necessidade dessa repetição. 'Por fim', exclama uma delas, 'te dei o amor'. Não surpreende que Don Juan ria dela. 'Por fim? Não' - diz ele - 'outra vez.' Por que seria preciso amar raramente para amar muito?" (Albert Camus, O Mito de Sísifo - ensaio sobre o absurdo, "O Donjuanismo", p. 83, tradução de Ari Roitman e Paulina Watch).


Nenhum comentário:

Postar um comentário