"A gente é monogâmico só quando o amor está bom demais. Se ele fica bom, quer dizer, normal, a gente se torna logo poligâmico. Agora, quando está bom demais, não há como pensar em outras coisas, querer outras pessoas. Ficamos ali mergulhados naquela experiência, querendo aprofundá-la, vivê-la por inteiro. Isso deriva daquele negócio da gente, se quer a liberdade, não poder ser uma coisa só. Fritz Perls tem uma frase de que gosto muito: 'Deus me livre das pessoas de caráter.' É que as pessoas de caráter são únicas, não mudam, não evoluem, têm obsessão pela coerência. E a vida não é assim. Na vida você tem de aparentar muita incoerência para poder viver todos os seus lados. Eu me sinto uma incoerência só, hoje em dia. E assim vivo muitas experiências, amo de mil maneiras mil pessoas, e sigo o que a Natureza me impõe. Sem entrar em um modelo, viver a moda, obedecer a padrões. Estou vivendo meus impulsos, minhas funções vitais que às vezes coincidem com as gerais e institucionalizadas, com as que foram classificadas; outras vezes, a maior parte das vezes, não, pareço maluco, dou vexames..."
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domingo, 19 de julho de 2015
domingo, 5 de janeiro de 2014
"A gente é monogâmico só quando o amor está bom demais. Se ele fica bom, quer dizer, normal, a gente se torna logo poligâmico. Agora, quando está bom demais, não há como pensar em outras coisas, querer outras pessoas. Ficamos ali mergulhados naquela experiência, querendo aprofundá-la, vivê-la por inteiro. Isso deriva daquele negócio da gente, se quer a liberdade, não pode ser uma coisa só. Fritz Perls tem uma frase que gosto muito: 'Deus me livre das pessoas de caráter'. É que as pessoas de caráter são únicas, não mudam, não evoluem, tem obsessão pela coerência. E a vida não é assim. Na vida você tem de aparentar muita incoerência para poder viver todos os seus lados. Eu me sinto uma incoerência só, hoje em dia. E assim vivo muitas experiências, amo de mil maneiras mil pessoas, e sigo o que a Natureza me impõe. Sem entrar em um modelo, viver a moda, obedecer a padrões. Estou vivendo meus impulsos, minhas funções vitais que às vezes coincidem com as gerais e institucionalizadas, com as que foram classificadas; outras vezes, a maior parte das vezes, não, pareço maluco, dou vexames..."
Trecho de "Ame e Dê Vexame", de Roberto Freire.
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quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Para quem ainda vier a me amar.
Quero dizer que te amo só de amor. Sem ideias, palavras, pensamentos. Quero fazer que te amo só de amor. Com sentimentos, sentidos, emoções. Quero curtir que te amo só de amor. Olho no olho, cara a cara, corpo a corpo. Quero querer que te amo só de amor.
São sombras as palavras no papel. Claro-escuros projetados pelo amor, dos delírios e dos mistérios do prazer. Apenas sombras as palavras no papel.
Ser-não-ser refratados pelo amor no sexo e nos sonhos dos amantes. Fátuas sombras as palavras no papel.
Meu amor te escrevo feito um poema de carne, sangue, nervos e sêmen. São versos que pulsam, gemem e fecundam.
Meu poema se encanta feito o amor dos bichos livres às urgências dos cios e que jogam, brincam, cantam e dançam fazendo o amor como faço o poema.
Quero da vida as claras superfícies onde terminam e começam meus amores. Eu te sinto na pele, não no coração. Quero do amor as tenras superfícies onde a vida é lírica porque telúrica, onde sou épico porque ébrio e lúbrico. Quero genitais todas as nossas superfícies.
Não há limites para o prazer, meu grande amor, mas virá sempre antes, não depois da excitação. Meu grande amor, o infinito é um recomeço. Não há limites para se viver um grande amor. Mas só te amo porque me dás o gozo e não gozo mais porque eu te amo. Não há limites para o fim de um grande amor.
Nossa nudez, juntos, não se completa nunca, mesmo quando se tornam quentes e congestionadas, úmidas e latejantes todas as mucosas. A nudez a dois não acontece nunca, porque nos vestimos um com o corpo do outro, para inventar deuses na solidão do nós. Por isso a nudez, no amor, não satisfaz nunca.
Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Porque tu me amas, eu não preciso de ti. No amor, jamais nos deixamos completar. Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.
O amor é tanto, não quanto. Amar é enquanto, portanto. Ponto.
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Roberto Freire
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Declaração do amante Anarquista:
Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Porque tu me amas, eu não preciso de ti. No amor, jamais nos deixamos completar. Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.
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sábado, 31 de agosto de 2013
O sino no pescoço da Globo.
Para ler ao som do soteropolitano Raul Seixas.
Meu amor à música popular proporcionou-me inúmeras oportunidades de servi-la, sempre na condição de coadjuvante, de um modo que me orgulho e envaideço ao recordar.
Fui jurado de quase todos os festivais de música popular brasileira, desde o primeiro, na Televisão Excelsior, aos da Televisão Record e alguns da Rede Globo. Quase sempre quem me indicava era o seu produtor, Solano Ribeiro. Em outras ocasiões, pelo que me dizia Solano, meu nome era lembrado pelos próprios concorrentes.
Assim, tive a alegria de ter ajudado a nascer, como um obstetra, claro, os mais importantes compositores brasileiros: Edu Lobo, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, entre muitos outros. A maior alegria em ter participado desses eventos decorre do fato de ter ajudado a impedir que fossem cometidas injustiças contra os artistas que acabei de citar.
Nunca trabalhei em qualquer outro tipo de júri, então não posso generalizar. Porém, a responsabilidade estética do jurado em concursos de música popular brasileira tem de ser acompanhada de outra, tão ou mais importante que aquela: a política. Política do tipo brasileiro mesmo: briga de foice no escuro. Briga entre as tendências estéticas e políticas dos jurados, briga entre os jurados por causa de sua amizade e admiração pelos compositores em concurso, briga dos jurados com os organizadores dos festivais, briga dos jurados com a direção da televisão, briga dos jurados com os patrocinadores dos festivais. Resumindo, se o jurado não topar a briga de foice no escuro, não se fará a devida justiça, acabando por não saírem vitoriosos os mais competentes e talentosos.
Essas brigas ocorrem na forma de bate-bocas que podem terminar em ameaças ou, o que de fato muitas vezes aconteceu, em porradas mesmo. Lembro-me de que, no primeiro festival, um jurado (músico famoso) acusou Edu Lobo de ter plagiado VillaLobos em Arrastão. Dei-lhe 24 horas para que provasse isso, trazendo-nos a prova em número de compassos idênticos, nas duas músicas, para que se configurasse o plágio. Caso contrário eu quebraria a sua cara, por estar ofendendo a honra do meu amigo Edu. Não trouxe a prova e teve de fugir de mim durante todo o festival.
Quando a direção da Record desclassificou Sérgio Ricardo por ter jogado o violão sobre a platéia que o vaiava, me insurgi e levantei o júri contra a direção da emissora, obrigando-a a retirar publicamente a decisão. Para, em seguida, votar contra a música Beto bom de bola, de que realmente eu não gostava, do meu querido amigo Sérgio Ricardo.
Não estou autorizado a dar detalhes e citar nomes das pessoas pertencentes a um grupo de jurados que sempre se aliaram em defesa da Música Popular Brasileira, numa atividade tanto política quanto artística, discutindo e decidindo quais as composições a classificar, criando estratégias e táticas que nunca foram desonestas, porém surpreendiam nossos adversários, derrotando-os, em maneiras espertas e surpreendentes de dar notas na hora da votação.
O que muito nos orgulhava e desfazia qualquer mal-estar por participarmos de tantos jogos e manobras políticas era o enorme talento dos jovens compositores que protegíamos. Além disso, o que é óbvio, eram pessoas que, além de excelentes artistas, possuíam visão de mundo progressista e antiautoritária.
Tínhamos a nosso favor a admiração total e imediata do público a esses artistas que logo se tornaram ídolos populares e, ao mesmo tempo, uma espécie de reserva cultural e política de integridade e resistência à ditadura militar da época.
Porém, de todas essas aventuras, a que mais me alegra lembrar, apesar dos sofrimentos físicos que me foram infligidos na ocasião, foi a ocorrida no FIC, um festival da Rede Globo, onde eu trabalhava na época criando o programa A Grande Família.
Numa foto do jornal O Estado de São Paulo, que foi reproduzida no meu livro Viva Eu, Viva Tu, Viva o Rabo do Tatu! está documentado esse episódio, acontecido no dia 2 de outubro de 1972. No júri dirigido por Nara Leão, estavam, entre outros, além de mim, João Carlos Martins, Décio Pignatari, Rogério Duprat e Sérgio Cabral. Como a direção da Globo suspeitou que tínhamos a intenção de premiar a música originalíssima, porém muito agressiva, Cabeça, de Walter Franco, ela decidiu destituir o júri nacional, substituindo-o pelo júri composto por estrangeiros que trabalhavam na parte internacional do festival.
Lembro-me da reunião realizada no hotel Copacabana Palace, na qual decidimos redigir um manifesto de protesto e de denúncia contra a Globo, pela sua decisão de nos destituir e por submeter a música brasileira a um julgamento de estrangeiros, atestando, assim, nossa incompetência. E ficou decidido também que um de nós invadiria o palco do Maracanãzinho durante a transmissão ao vivo do festival e leria o manifesto ao microfone. Até aí, tudo bem, e até me faz lembrar a velha piada: os ratos, para se prevenir da aproximação do gato, decidem colocar um guizo no seu pescoço; então um rato gaiato pergunta: “Sim, mas quem vai colocar o guizo no pescoço do gato?” Não sei por que, não me lembro dos argumentos utilizados, mas ficou decidido que eu é que ia ler o manifesto.
O espetáculo corria solto. Munido da credencial, entrei nos camarins do Maracanãzinho e consegui o apoio do grupo O Terço (formado por jovens amigos de meus filhos), que se prontificou a me levar escondido entre eles na hora que entrassem no palco. E assim foi. Cheguei ao microfone e, diante do espanto geral, comecei a ler o manifesto. Mas fui logo agarrado por homens da segurança da Globo que me arrastaram para trás das cortinas. Ali, fui jogado nas mãos de uns dez policiais que começavam a me aplicar uma tremenda surra no exato momento em que o fotógrafo do jornal O Estado de São Paulo conseguia fazer a foto a que me referi. Bateram o quanto quiseram, fraturando-me um braço, quatro costelas e fazendo do meu rosto uma couve-flor sangrenta. E me trancaram num camarim, preso.
Os primeiros a aparecer foram os meus companheiros do júri, preocupados com meu estado físico e indignados com a violência. Contaram que a televisão tinha saído do ar depois da minha intervenção. Alguns membros da diretoria da emissora apareceram também e fizemos ali mesmo uma reunião, na qual chantageei a Globo: ou liam nosso manifesto no ar, durante o festival, ou eu receberia os jornalistas, daria entrevista sobre a surra e lhes entregaria o manifesto. A chantagem foi acrescida da ameaça dos meus companheiros: tentariam invadir o palco eles também, a menos que fossem todos presos.
Com a retirada de algumas frases agressivas demais para a Globo ler no ar contra ela mesma, o manifesto foi lido pelo apresentador do festival. E fui levado para o hospital, me sentindo feliz e um tanto ridículo por bancar o herói e ter acabado como mártir da MPB ao ousar botar o guizo no pescoço da Globo.
Roberto Freire em Ame & Dê Vexame.
Link do livro para baixar: http://2013libertara.wikispaces.com/file/view/Roberto+Freire+-+Ame+e+D%C3%AA+Vexame+(pdf)(rev).pdf
O paulista Roberto Freire.
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sexta-feira, 23 de agosto de 2013
"Tesudos de todo o mundo, uni-vos!"
CONTRA CAPA.
Descobri que é chegada a hora de acrescentarmos ao tempo
e ao espaço mais uma dimensão fundamental à vida no universo:
o tesão.
Porém, não me refiro ao tesão do Aurélio, mas sim ao do
Caetano, por exemplo. Para mim esse tesão não habita dicionários
oficiais; entretanto, é o que anima e encanta os poetas tropicais.
Tesão sem passado, apenas contemporâneo e vertical, ele é
produto semântico e romântico dos que sentem desejo pelo desejo,
alegria pela alegria e beleza pela beleza. Mas pode linda tesão de
quem sente desejo pela alegria, beleza pelo desejo e alegria pela
beleza.
Sem tesão não há solução, além disso, é também um livro
confessional. Por meio de entrevistas, confesso-me anarquista
graças a Eros, poeta apenas de expressão corporal, romancista
das sujeiras humanas cristalinas, terapeuta somente de mutantes
e de coiotes, revolucionário por vocação herética, drogado
assumido, público e autônomo.
Termino o livro com uma profecia anarcoecológica, em forma
de manifesto: Tesudos de todo o mundo, uni-vos.
ROBERTO FREIRE - Sem Tesão Não Há Solução.
Para ler ao som do baiano Caretano Veloso.
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Sem Tesão Não Há Solução (1987) - Roberto Freire. |
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quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Trecho de Utopia & Paixão - Roberto Freire.
"Toda perda amorosa, todo fim de relação, é coisa extremamente dolorosa. E tanto maior o prazer e a alegria de uma relação, maior a dor e a tristeza que serão provocadas quando do seu fim ou de sua perda. Mas, se sabemos realisticamente que todo amor terá sempre um fim e que algo ou tudo da relação pode ser destruído com o tempo, deveríamos, então, estar sempre preparados para enfrentar a dor. Enfim, a dor é também o amor. Porque a dor e o prazer no amor são uma só coisa, alternando-se como bússola a indicar as vitórias e os fracassos da sedução, do amor e da paixão nas relações afetivas. E o sentimento de onipotência, é o autoritarismo apropriativo que supõe e cobra o direito a vivermos apenas o prazer no amor. Acreditamos, porque já experimentamos mais de uma vez, que a dor pela perda ou destruição de um grande amor torna-se insuportável, consegue vencer a compreensão ideológica e nos desorganiza psicologicamente. Parece ser algo impossível de anestesiar e de consolar. E como poderia ser diferente se esse amor foi uma sedução permanente, uma paixão vertical, inédita, uma relação de suplementaridade, na qual beleza e prazer se confundiram num só sentimento e percepção? Como poderíamos sofrer menos quando o perdemos ou o vemos destruído irremediavelmente? Sempre nos sobrará, no mínimo, um terrível sentimento de culpa e, no máximo, o vazio abismal da solidão dos deuses decaídos. Mas nós aceitamos, queremos essa dor, mesmo que seja mortal, porque ela é o testemunho de que pelo menos durante algum tempo conhecemos a verdadeira face do amor. E só isso basta para justificar a vida".
Do filme Edukators.
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quarta-feira, 31 de julho de 2013
Oração da Gestalt.
"Eu faço as minhas coisas e você faz as suas.
Eu não estou no mundo para atender as suas expectativas.
E você não está no mundo para atender as minhas.
Você é você, eu sou eu.
E, se por acaso nós nos encontrarmos, será lindo.
Se não, nada se pode fazer".
Fritz Perls - tradução de Roberto Freire.
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Carlos Latuff |
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segunda-feira, 22 de julho de 2013
O Manó.
"O Manó garante que os duendes são amor em estado puro. Quer dizer, amam o tempo todo, não param nunca. Eles amam como respiram. Só às vezes eles param de amar pra trabalhar, produzir, procriar. Cê já imaginou? Não precisam de sexo pra amar e criar, só pra procriar. Sei lá que que eu acho disso, é muita coisa junta, por exemplo: eles não sabem nada de lógica e de tempo, não existe causa e efeito, saca? As coisas acontecem dum jeito porque sempre aconteceram assim e fim de papo. Um negócio meio complicado, acreditam numa espécie de destino programado, uma coisa cíclica como o dia e a noite, as quatro estações. Não existe tempo, doutor, não existe tempo! Eles não sabem o que é passado e futuro, isso é demais, é o sentido vertical da existência! A memória é uma coisa fora deles, é um livro, uma foto. O que o Manó sente e percebe é só na hora que ele vive isso, saca? Sei que ele gosta de mim, mas cada vez que ele me vê é como se fosse a primeira e última vez! Cê tem que vir pra cá conversar com ele, conhecer diretamente, vai dar pra entender melhor, acho que não tou conseguindo te explicar direito".
(Coiote- Roberto Freire).
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