domingo, 9 de maio de 2021

Catherine Helene Sintes-Camus



Em 7 de maio de 1921, Catherine Helene Sintes-Camus foi informada pelo Ministério da Pensão da França que, como viúva de guerra, ela tinha direito a oitocentos francos por ano, mais trezentos francos para cada um de seus filhos até a idade de dezoito. . Na época, uma faxineira ganhava mil francos por ano. Como órfãos de guerra, Lucien e Albert tinham direito a tratamento médico gratuito. Durante a guerra, sua mãe havia trabalhado em uma fábrica, empilhando cartuchos em caixas. Os trabalhadores ganhavam até cinco francos por dia, mas agora a viúva Camus trabalhava como faxineira em residências e empresas privadas, como no açougue da rue de Lyon, em Argel.

Ela morava no apartamento de sua mãe com seus irmãos, Etienne e Joseph, e seus dois filhos.
A mãe de Camus veio de uma família de origem espanhola, de Minorca. Morena, pequena e parcialmente surda, ela não sabia ler nem escrever. Embora ela pudesse ler os lábios, algumas pessoas a achavam muda ou retardada mental. Outros pensaram que ela estava sofrendo de meningite maltratada. Albert acreditava que sua mãe começou a ter problemas de audição e fala após um surto de febre tifóide ou tifo. Outros ainda pensaram que ela tivera um ataque cerebral ao saber da morte do marido.

Presente, mas distante, essa mulher apavorada não interferia nas crianças como a avó de Camus fazia. Nem reclamaria quando uma tia a desprezasse. Catherine Helene, conhecida na família pelo segundo nome, não ria nem chorava na frente da família, mantendo um sorriso constante no rosto. Quando Lucien e Albert brigavam, ela dizia apenas: "Não gosto de discussões, não gosto de brigas". Ela tinha mãos vermelhas e reumáticas e usava blusas pretas ou cinza o ano todo. Ela se apoiava no cotovelo no parapeito da janela, olhando a rua através dos vasos de gerânios. Na primavera e no verão, ela colocava uma cadeira na calçada e ouvia as fofocas dos vizinhos.

TODD, Olivier. Camus, uma vida. Ed. Record, p. 28-35.



segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Hoje faz 61 anos que Albert Camus morreu.

Em 1949 Camus visitou a penitenciária do Carandiru, em São Paulo e escreveu em seu Diário:

"Às três horas, levam-me, não sei bem por que, à penitenciária da cidade, 'a mais bela do Brasil'. É 'bela', na verdade, como um presídio de filme americano. A não ser pelo cheiro, o cheiro horrível de homens que se impregna em todas as prisões. Grades, portas de ferro, grades, portas etc. E, de quando em quando, um letreiro: 'Seja bom' e sobretudo 'Otimismo'. Sinto vergonha de um ou dois detentos, aliás privilegiados, que fazem o serviço da prisão. O psiquiatra me chateia com as classificações das mentalidades perversas. E alguém me diz, ao sair, a fórmula ritual: 'Aqui, você está em sua casa' (...) Andrade [Oswald] me informa que, no presídio-modelo, já se viram detentos suicidarem-se batendo a cabeça contra as paredes e apertando a garganta numa gaveta até a asfixia". CAMUS, Albert. Diário de Viagem. Trad. Valerie Rumjanek, Rio de Janeiro: Editora Record, pgs. 98-99, 2004.

Foto: Oswald de Andrade (esquerda) recepciona Albert Camus (ao centro), São Paulo, SP, 1949. Foto: Acervo/Estadão.
Oswald de Andrade (esquerda) recepciona Albert Camus (ao centro), São Paulo, SP, 1949. Foto: Acervo/Estadão.


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Não é confortável votar em uma época em que a fraude faz parte da ordem de todos os dias,

mas não consigo vislumbrar um horizonte revolucionário tão cedo na história que possibilite superar o modo de produção captalístico e a democracia burguesa, pois se os nossos sonhos não cabem nas urnas, hoje cabem os nossos pesadelos, votar nulo ou não votar na prática é o mesmo que votar no bolsonarismo, então se alguém tem uma solução alternativa possível no atual contexto no nível molar, que mostre que é viável, por favor.

                                   


sexta-feira, 24 de julho de 2020

“Não ser de esquerda é como um endereço postal. Parte-se primeiro de si próprio, depois vem a rua em que se está, depois a cidade, o país, os outros países e, assim, cada vez mais longe. Começa-se por si mesmo e, na medida em que se é privilegiado, costuma-se pensar em como fazer para que esta situação perdure”.

Já “ser de esquerda”, seria o contrário. “É perceber… É um fenômeno de percepção. Primeiro, vê-se o horizonte e sabe-se que não pode durar, não é possível que milhares de pessoas morram de fome. Isso não pode mais durar. Não é possível esta injustiça absoluta. Não em nome da moral, mas em nome da própria percepção”.


“Ser de esquerda é começar pela ponta. Começar pela ponta e considerar que estes problemas devem ser resolvidos”.
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(Abecedário Deleuze).

terça-feira, 21 de julho de 2020

Antifascismo não é uma idenidade,

mas um modo de vida. É preciso ação, estratégia, tática. A história mostra como só a luta coletiva derrotou o fascismo. Passada a euforia de se autodeclarar antifascista, agora precisamos nos organizar para sair do individualismo e criarmos nossas matilhas, nossos grupos, nossas tribos. Guerras híbridas necessitam de máquinas de guerra híbridas. Para resistirmos vamos ter que ser criativos, colocar nossos devires-minoritários em movimento criando alianças entre os modos de vida antifascistas em agenciamentos coletivos.

sábado, 18 de julho de 2020

"O antifascismo cotidiano aplica uma visão antifascista a qualquer tipo de interação com os fascistas, todos os dias ou de qualquer outra forma. É se recusar a aceitar a perigosa noção de que homofobia é apenas 'opinião' de alguém que a tem direito. É se recusar a aceitar a oposição à ideia básica de 'vidas negras importam' como um simples desacordo político. Uma perspectiva antifascista não tem tolerância pela intolerância. Não 'concorda em discordar'. Para aqueles que argumentam que isso não nos faria melhor que os nazistas, devemos ressaltar que nossa crítica não é contra a violência, a incivilidade, discriminação ou interromper discursos em abstrato, mas contra aqueles que o fazem a serviço da supremacia branca, do héteropatriarcado, da opressão de classe e do genocídio. O ponto aqui não é a tática; é a política". (ANTIFA - O Manual Antifascista, Mark Bray).

sexta-feira, 17 de julho de 2020

"Os antifascistas não devem se preocupar apenas com aqueles que se organizam em nome da supremacia branca e aqueles que casualmente pregam o status-quo racista, mas também com aqueles que nunca dizem nada. Os regimes fascistas prosperam com o apoio generalizado, ou pelo menos consentido, cultivando o orgulho e o medo da perda de uma variedade de identidades, privilégios e tradições. Um dos mais importantes no contexto do ressurgimento da extrema-direita nos EUA é a branquitude". (ANTIFA - O Manual Antifascista, Mark Bray).