quarta-feira, 31 de julho de 2013

Oração da Gestalt.

"Eu faço as minhas coisas e você faz as suas.
Eu não estou no mundo para atender as suas expectativas.
E você não está no mundo para atender as minhas.
Você é você, eu sou eu.
E, se por acaso nós nos encontrarmos, será lindo.
Se não, nada se pode fazer".

Fritz Perls - tradução de Roberto Freire.

Carlos Latuff

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Discurso de Evo Morales na Europa.

Evo Morales.

Presidente boliviano intima Chefes de Estado europeus a quitarem a dívida estratosférica que a Europa possui com a América Latina.

Com linguagem simples, que era transmitida em tradução simultânea a mais de uma centena de Chefes de Estado e dignitários da Comunidade Européia, o Presidente Evo Morales conseguiu inquietar sua audiência quando disse:

"Aqui eu, Evo Morales, vim encontrar aqueles que participam da reunião. Aqui eu, descendente dos que povoaram a América há quarenta mil anos, vim encontrar os que a encontraram há somente quinhentos anos. Aqui pois, nos encontramos todos. Sabemos o que somos, e é o bastante. Nunca pretendemos outra coisa.

O irmão aduaneiro europeu me pede papel escrito com visto para poder descobrir aos que me descobriram. O irmão usurário europeu me pede o pagamento de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei a vender-me.

O irmão rábula europeu me explica que toda dívida se paga com bens ainda que seja vendendo seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. Eu os vou descobrindo. Também posso reclamar pagamentos e também posso reclamar juros. Consta no Archivo de Indias, papel sobre papel, recibo sobre recibo e assinatura sobre assinatura, que somente entre os anos 1503 e 1660 chegaram a San Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.

Saque? Não acredito! Porque seria pensar que os irmãos cristãos pecaram em seu Sétimo Mandamento.

Expoliação? Guarde-me Tanatzin de que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue de seu irmão!

Genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomé de las Casas, que qualificam o encontro como de destruição das Indias, ou a radicais como Arturo Uslar Pietri, que afirma que o avanço do capitalismo e da atual civilização europeia se deve à inundação de metais preciosos!

Não! Esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata devem ser considerados como o primeiro de muitos outros empréstimos amigáveis da América, destinado ao desenvolvimento da Europa. O contrário seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito não só de exigir a devolução imediata, mas também a indenização pelas destruições e prejuízos. Não

Eu, Evo Morales, prefiro pensar na menos ofensiva destas hipóteses.

Tão fabulosa exportação de capitais não foram mais que o início de um plano ‘MARSHALLTESUMA’, para garantir a reconstrução da bárbara Europa, arruinada por suas deploráveis guerras contra os cultos muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, do banho cotidiano e outras conquistas da civilização.

Por isso, ao celebrar o Quinto Centenário do Empréstimo, poderemos perguntar-nos: Os irmãos europeus fizeram uso racional, responsável ou pelo menos produtivo dos fundos tão generosamente adiantados pelo Fundo Indoamericano Internacional?Lastimamos dizer que não. Estrategicamente, o dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em armadas invencíveis, em terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo, sem outro destino que terminar ocupados pelas tropas gringas da OTAN, como no Panamá, mas sem canal. Financeiramente, têm sido incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de cancelar o capital e seus fundos, quanto de tornarem-se independentes das rendas líquidas, das matérias primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo. Este deplorável quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e os juros que, tão generosamente temos demorado todos estes séculos em cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus as vis e sanguinárias taxas de 20 e até 30 por cento de juros, que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo. Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos adiantados, mais o módico juros fixo de 10 por cento, acumulado somente durante os últimos 300 anos, com 200 anos de graça.

Sobre esta base, e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, informamos aos descobridores que nos devem, como primeiro pagamento de sua dívida, uma massa de 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambos valores elevados à potência de 300. Isto é, um número para cuja expressão total, seriam necessários mais de 300 algarismos, e que supera amplamente o peso total do planeta Terra.

Muito pesados são esses blocos de ouro e prata. Quanto pesariam, calculados em sangue?

Alegar que a Europa, em meio milênio, não pode gerar riquezas suficientes para cancelar esse módico juro, seria tanto como admitir seu absoluto fracasso financeiro e/ou a demencial irracionalidade das bases do capitalismo.

Tais questões metafísicas, desde logo, não inquietam os indoamericanos. Mas exigimos sim a assinatura de uma Carta de Intenção que discipline os povos devedores do Velho Continente, e que os obrigue a cumprir seus compromissos mediante uma privatização ou reconversão da Europa, que permita que a nos entregue inteira, como primeiro pagamento da dívida histórica."

domingo, 28 de julho de 2013

Durango Kid Só Existe No Gibi Mas Quase Me Pegou Ou O Cowboy Fora Da Lei Bota O Bloco Na Rua.


Eu não sou besta pra tirar onda de herói, eu quero é botar meu bloco na rua, brincar, botar pra gemer, ginga pra dar & vender. Há quem diga queu morri de medo quando o pau quebrou, queu não sei de nada, queu não sou de nada, sou vacinado, eu sou cowboy fora da lei. Eu já servi à Pátria amada & todo mundo cobra minha luz. Durango Kid só existe no gibi mas quase me pegou. Oh, coitado, foi tão cedo...

Papai, há quem diga queu dormi de touca, queu fugi da briga, queu não vi saída, entrar pra história é com vocês e alguém pode querer me assassinar. Deus me livre, eu não preciso ler jornais e não peço desculpas, queu perdi a boca, queu caí do galho, queu não tenho culpa, tenho medo de morrer dependurado numa cruz.

Mamãe, não quero provar nada, queria um quilo mais daquilo, um grilo menos nisso, não quero ser prefeito, pode ser queu seja eleito, não quero ir de encontro ao azar, mentir sozinho eu sou capaz e quem quiser que fique aqui, é disso queu preciso ou não é nada disso. Eu quero é todo mundo nesse Carnaval!

Sérgio Sampaio e Raul Seixas.

sábado, 27 de julho de 2013

O Amor.

Na selva amazônica, a primeira mulher e o primeiro homem se olharam com curiosidade. Era estranho o que tinham entre as pernas.
_ Te cortaram? – perguntou o homem.
_ Não – disse ela-. Sempre fui assim.
Ele a examinou de perto. Se coçou a cabeça. Ali havia uma ferida aberta.
Disse:
_ Não comas banana, nem mandioca, nem fruta alguma que se rache ao amadurecer. Eu te curarei. Deita-te na rede e descansa.
Ela obedeceu. Com paciência tomou a mistura de ervas e deixou que aplicasse as pomadas e ungüentos. Tinha que apertar os dentes para não rir, quando ele dizia:
_ Não se preocupe.
O jogo a agradava, mesmo que começava a cansar-se de viver em jejum e estendida na rede. A memória das frutas lhe enchia a boca d’água.
Uma tarde o homem chegou correndo através da floresta. Dava saltos de euforia e gritava:
_ Encontrei! Encontrei!
_ Acabara de ver o macaco curando a macaca na copa de uma árvore.
_ É assim – disse o homem, aproximando-se da mulher.
Quando terminou o longo abraço, um aroma espesso de flores e frutas, invadiu o ar. Dos corpos, deitados juntos, desprendiam-se vapores e fulgores jamais vistos, e era tanta sua beleza que morriam de vergonha os sóis e os deuses.

Eduardo Galeano, no livro "Mulheres".

Eduardo Galeano.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Maria Padilha.

Ela é Exu e também uma de suas mulheres, espelho e amante: Maria Padilha, a mais puta das diabas com quem Exu gosta de se revirar nas fogueiras.Não é difícil reconhecê-la quando entra em algum corpo. Maria Padilha geme, uiva, insulta e ri com muitos maus modos, e no fim do transe exige bebidas caras e cigarros importados. É preciso dar a ela tratamento de grande senhora e rogar-lhe muito para que se digne a exercer sua reconhecida influência junto aos deuses e diabos que mandam mais. Maria Padilha não entra em qualquer corpo. Ela escolhe, para manifestar-se neste mundo, as mulheres que nos subúrbios do Rio ganham a vida entregando-se a troco de tostões. Assim, as desprezadas se tornam dignas de devoção: a carne de aluguel sobe ao centro do altar. Brilha mais que todos os sóis o lixo da noite.

Eduardo Galeano, no livro "Mulheres".

Maria Padilha

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Sou cada vez mais a favor da desmilitarização não só da PM,

mas também dos Movimentos Sociais. "Militante" é para militares e precisamos agora certamente de outra coisa, assim como "não nos livraremos de Deus enquanto não nos livrarmos da gramática", como dizia Nietzsche, não nos livraremos da opressão enquanto não nos livrarmos da sua semântica. Não por uma questão simplesmente moral, mas particularmente eu não sei atirar nem com baladeira direito pra falar sobre pegar em armas e coisas do tipo, só me proponho a ter virtudes até aonde o meu espírito alcança, nunca vivi uma guerra civil de fato, apenas li sobre e não gosto de falar sobre o que não vivo e por isso não me proponho a ser militar, nem militante.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Pelo Amor Livre.


Eu prometo não te prometer nada
Nem te amar para sempre
nem não te trair nunca
nem não te deixar jamais.
Estou aqui, te sinto agora
sem máscaras nem artifícios
e enquanto for bom para os dois que o outro fique.

Nada a te oferecer senão eu mesmo
Nada a te pedir senão que sejas quem tu és
a verdade é o que de melhor temos para compartilhar.

Tuas coisas continuam tuas e as minhas, minhas.
Não nos mudaremos na loucura de tornar eterno
esse breve instante que passa.

Se crescemos juntos
ainda que em direções opostas
saberemos nos amar pelo que somos
sem medo ou vergonha
de nos mostrarmos um ao outro por inteiro.

Não te prendo e não quero que me prendas
Nenhuma corrente pode deter o curso da vida
nenhuma promessa pode substituir o amor
quero que sejas livre como eu próprio quero ser.
Companheiros de uma viagem que está começando
cada vez que nos encontramos novamente.

(Geraldo Eustáquio de Souza)

Latuff
Carlos Latuff