quinta-feira, 31 de outubro de 2013

"As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler"

José Saramago - O Evangelho Segundo Jesus Cristo.

sábado, 26 de outubro de 2013

O Homem Congrega Todas as Espécies de Animais.


Para ler ao som do carioca Chico Buarque.

Há tão diversas espécies de homens como há diversas espécies de animais, e os homens são, em relação aos outros homens, o que as diferentes espécies de animais são entre si e em relação umas às outras. Quantos homens não vivem do sangue e da vida dos inocentes, uns como tigres, sempre ferozes e sempre cruéis, outros como leões, mantendo alguma aparência de generosidade, outros como ursos grosseiros e ávidos, outros como lobos arrebatadores e impiedosos, outros ainda como raposas, que vivem de habilidades e cujo ofício é enganar! 

Quantos homens não se parecem com os cães! Destroem a sua espécie; caçam para o prazer de quem os alimenta; uns andam sempre atrás do dono; outros guardam-lhes a casa. Há lebréus de trela que vivem do seu mérito, que se destinam à guerra e possuem uma coragem cheia de nobreza, mas há também dogues irascíveis, cuja única qualidade é a fúria; há cães mais ou menos inúteis, que ladram frequentemente e por vezes mordem, e há até cães de jardineiro. Há macacos e macacas que agradam pelas suas maneiras, que têm espírito e que fazem sempre mal. Há pavões que só têm beleza, que desagradam pelo seu canto e que destroem os lugares que habitam.

Há pássaros que não se recomendam senão pela sua plumagem ou pelas suas cores. Quantos papagaios falam sem cessar, sem nunca compreender o que dizem; quantas pegas e gralhas são domesticadas para roubar; quantas aves predadoras vivem da rapina; quantas espécies de animais agradáveis e tranquilas servem apenas para alimentar outros animais! 

Há gatos, sempre à espreita, maliciosos e infiéis, que deslizam com patas de veludo; há víboras de língua venenosa, sendo o resto útil; há aranhas, moscas, percevejos e pulgas, que são sempre incómodos e insuportáveis; há sapos, que nos horrorizam e que têm peçonha; há mochos, que temem a luz. Quantos animais não vivem sob a terra para se manter! Quantos cavalos, que utilizamos para tantos fins, não abandonamos quando já não servem mais; quantos bois não trabalham uma vida inteira para enriquecer aqueles que lhes impõem o jugo: as cigarras, que passam a vida a cantar; as lebres, que têm medo de tudo; coelhos, que se espantam e acalmam num instante; porcos, que vivem na crápula e na imundície; patos mansos, que atraiçoam os seus congéneres, atraindo-os a armadilhas, corvos e abutres, que vivem apenas de podridão e de cadáveres! Quantas aves migratórias não voam tantas vezes de um extremo ao outro do mundo e se expõem a tantos perigos para sobreviver! Quantas andorinhas, sempre atrás do bom tempo; quantos escaravelhos, inadvertidos e sem objectivo; quantas borboletas à procura do logo que as queima! Quantas abelhas, que respeitam o seu chefe e vivem com tanta ordem e trabalho! Quantos zangãos, vagabundos e mandriões, não procuram estabelecer-se à custa das abelhas! Quantas formigas, cuja previdência e economia provêem a todas as suas necessidades! Quantos crocodilos fingem queixar-se para melhor devorar aqueles que são sensíveis às suas queixas! E quantos animais se submetem porque ignoram a sua força! 

Todas estas qualidades se encontram no homem e ele procede, em relação aos outros homens, como os animais de que acabamos de falar procedem entre si. 


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

"(...) Meu Deus, e dizer que a vida é isso, que é por isso que a gente se veste, se lava, se faz bonita e que todos os romances são escritos, e que se pensa nisso o tempo todo e finalmente eis a que se reduz: vai-se para um quarto com um homem que quase nos sufoca e que no fim nos deixa o ventre molhado. (...)". [Jean-Paul Sartre, "Intimidade", em "O Muro"].

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

"Amor livre? Por acaso o amor pode ser outra coisa mais que não livre? Sim, o amor é livre e não pode crescer em nenhum outro ambiente. Em liberdade, se entrega sem reservas, com abundância, completamente. Todas as leis e decretos, todos os tribunais do mundo não poderão arrancar-lhe do solo em que fincou suas raízes. O amor não necessita de proteção, porque ele se protege a si mesmo". [Emma Goldman].

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

Leminski.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Higiene é um valor indígena

Para ler ao som dos capixabas do Conjunto Musical Merda.

que de certa forma herdamos, como, por exemplo, o hábito de tomar muitos banhos e limpar o corpo para evitar doenças, além dos inúmeros remédios e vacinas naturais que também fazem parte desse cuidado de si, que é também um cuidar dos outros na medida em que em situações como as de pestes, por exemplo, o cuidado para não disseminar o que pode destruir a própria tribo mostra um senso coletivo que em tribos urbanas de descendentes de índios também percebemos hábitos higiênicos mesmo em piores situações econômicas, o que faz com que as comunidades continuem resistindo em várias favelas nas situações mais precárias de saneamento básico, sem água, sem energia, sem gás, sem esgoto, sem banheiros, mas ainda assim repassando o cuidado de si nos inconscientes coletivos de quem possui raízes indígenas em sua descendência, diferentemente dos europeus, que colonizaram as Américas e a África, mas que não gostam sequer de banhos de mar...

Frankito Lopes, o índio apaixonado.

sábado, 19 de outubro de 2013

Foda-se o preconceito linguístico,


Para ler ao som do baiano Tom Zé.

a língua é lânguida, fluida, múltipla, plural, dinâmica, linguagem é mandinga, malandragem, ginga, esquiva, paranauê, giro, arrodeio, drible, desvio, é ida, vinda, volta, não é um cristal, uma rocha, um castelo, uma floresta, um quartel, uma prisão, é um campo aberto, uma floresta, uma praia, um deserto, um rio, um riacho, uma cachoeira, um açude, uma onda, um mergulho, é um labirinto, uma encruzilhada, uma selva, é híbrida, poligrafa, polissêmica, diversa, controversa, é lenta, é rápida, é incompleta, é infinita, limitada, ampla, sublime, áspera, leve, lisa, frouxa, não é uma mônada, uma bolha, nem uma cela, é arte, é história, é religião, é ciência, é política, é morte, é vida, é fátua, é acaso, é sentimento, pulsão, tesão...


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Anarcopoitas do mundo, desuni-vos! (MANIFESTO DO PARTIDO POITA CEARENSE).

MANIFESTO DO PARTIDO POITA CEARENSE.

Anarcopoitas desunidos jamais serão vencidos. Muito pelo contrário, a nossa desunião faz a nossa força. Cada qual segue a singularidade que sente, pois todo proselitismo tende ao totalitarismo. Não somos mais conscientes, talvez apenas um pouco mais lúcidos, em certo sentido. Não acatamos os extremos: nem a realpolitik, nem a irrealpolitik. Pensemos todos iguais e seremos alvos fáceis, previsíveis, sem criatividade, anacrônicos etc. 

Poitar pode agregar, mas também pode desagregar. Não adianta ser anarcopoita e poitar o porteiro; não somos rebeldes sem causa, ainda fazemos corte de classe; não estamos isolados em uma bolha; sabemos que poitagem é malandragem, não é pilantragem, é paranauê, pois malandro demais, vira bicho; A nossa estética não é estática, mas ética. Combatemos o realismo político porque enquanto artistas da poitagem, ressaltamos a pluralidade; Pior do que falsos moralistas, são os falsos imoralistas; Nem tudo que é alternativo, é alternativo; Poitas do mundo, uni-vos!

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ela era

a Cinderela
à noite inteira,
mas eu preferia
a Gata Borralheira,
que não tem frescura,
que não tem besteira...


domingo, 13 de outubro de 2013

É preciso ter demasiada fé na razão

para acreditar em um sistema que seja capaz de dar conta de todos os aspectos da política a ponto de conseguir definir, por exemplo, o que é o Estado, pois sempre há algum aspecto que pode escapar da compreensão de algo tão complexo como a diversidade de sociabilidades envolvendo a religião, a economia, as intersubjetividades, a antropologia, a filosofia, o direito, o acaso, as paixões, os jogos etc., e é neste sentido que nenhum sistema político, por mais totalizante que seja, pode dar conta do que flui cotidianamente como a política em seu sentido mais amplo, pois a realidade sempre escapa às teorias e, neste sentido, as teorias sobre o Estado sempre tendem a ser limitadas, pois a política, em certos aspectos, é guiada muito mais pelo coração do que pela racionalidade e os grandes sistemas lógicos não podem dar conta do real, por mais presunção que se tenha sobre a realidade, além do que, quando o mundo concreto contradiz as teorias, o real é que passa a ser acusado de estar errado, quando, a bem da verdade, há sempre um aspecto limitado de toda teoria isolada que exclui outros aspectos que o racionalismo exagerado das teorias políticas nunca poderão abranger, na medida em que pretendem a partir de uma uniletariedade da razão (política) fomentar algo que não leva em consideração outras formas de se fazer política para além dos mesmos moldes que se fecharam como se fossem únicos, sobretudo, levando sempre em consideração a forma eurocêntrica de se fazer política, com repetições de modelos que geralmente não incluem as formas africanas ou latinas de se fazer política, por exemplo, como se não fizessem também parte da história mundial, por isso acredito que faz-se sempre necessário repensarmos os nossos conceitos políticos para além dos moldes pré-fabricados pela tradicional e conservadora racionalidade europeia...

sábado, 12 de outubro de 2013

A Política não é o lugar da Emancipação.

Tudo abala-se com o tempo, por isso a política é um jogo de caprichos que não pode ser fundamentado para sempre. A política não é o lugar do melhoramento do mundo, a ação humana não pode reverter o trágico da política. Diante da falta de fundamento da política, a vida social humana, em certo sentido, é absurda. A política não é o lugar da emancipação, do melhoramento do mundo, mas apenas uma espécie de diminuição dos efeitos danosos, recusando o ajuntamento do mal no mundo, reconhecendo os seus limites. Não há como gerenciar o acaso, o mal está dado e não pode ser cessado definitivamente, a contingência sempre se afirma. É preciso saber conduzir-se diante da incerteza, do acaso, já que não se pode dominá-lo. Quando se joga dados, o acaso está sempre presente, a única certeza é sempre a incerteza -.

*Nota à luz de Blaise Pascal.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Dizem que a religião é o ópio do povo,

Para ler ao som dos capixabas do Conjunto Musical Merda.

mas quando fui convidado a tomar o chá de ayahuasca em uma praia aqui do Ceará, por acaso cheguei na hora em que acontecia uma reunião dos moradores para discutir e solucionar os problemas da cidade em vários aspectos, contrapondo-se, sobretudo, a projetos bizarros do Governo do Estado em um fórum aberto que algumas das principais lideranças que cuidavam das lutas eram pessoas do Santo Daime que lutam há dezenas de anos naquele lugar, apesar de alguns nem serem brasileiros, assim como tantas outras que encontrei no caminho e que durante o preparo do chá e as outras vivências, dialogaram comigo sobre as lutas coletivas e pessoais do dia-a-dia, inclusive para além do simples humanismo, demonstrando sempre um cuidado com a natureza e ainda que sejam poucas as iniciativas, são grandes, como o desenvolvimento da permacultura, por exemplo, dentre outras coisas, ou seja, se para alguns europeus a religião é sinônimo de alienação, aqui na América-Latina eu vejo outras formas de lutas através das religiões no qual lutar não está dissociado da prática religiosa e ainda que não sejam todos, o pouco contato que tive me foi suficiente para não mais julgar as religiões do ponto de vista eurocêntrico, até porque muitas vezes os materialistas europeus são muito menos engajados nas lutas coletivas, perdendo-se em um individualismo muito mais perigoso do que a alienação religiosa, neste sentido vejo como relativo os conceitos sobre as religiões tanto quanto as religiões, mas para mim isso acaba sendo o menos importante, pois não me importa qual o credo ou a falta de credo que se tenha, e sim as práticas cotidianas, que para mim são muito mais critério de verdade do que qualquer teoria religiosa ou científica.


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Quando a conheci

pensei que ela fosse ser
a minha Lou Salomé
E que o nosso relacionamento
ia ser do tipo Simone de Beauvoir
Mas o que rolou foi muito mais
do tipo Hannah Arendt
Além disso, ela era
chata como Xantipa
e foi minha angústia
como Regine Olsen
Mas pelo menos
não fui como Kant,
que não comia ninguém...


terça-feira, 8 de outubro de 2013

É muito fácil dizer que a mídia mente,


Para ler ao som dos cariocas do Ponto de Equilíbrio.

mas organizar um jornal popular, uma rádio comunitária, um canal alternativo na internet, uma página no Facebook, poucos tem a audácia de fazer, vemos muitas pessoas reclamando todos os dias e poucas realmente organizando-se cotidianamente, colocando as suas internetes de alta velocidade a serviço de algo construtivo e coletivo, criando coletivos ou unindo-se a coletivos já existentes e resistentes, usando toda a criatividade ao atacar a grande mídia para construir outra mídia, com todo o conhecimento, até para se perceber que não é tão simples repassar informações todos os dias de forma "imparcial" e com a responsabilidade de arriscar assinar o que se faz, pois criticar os meios de comunicação por não denunciarem imediatamente as pautas que colocamos na internet é simples, mas agir com a responsabilidade de apurar os fatos e repassar para milhares de pessoas instantaneamente é muito mais difícil do que se pensa, não é como um clique no mouse ou uma zapiada no controle remoto ou como mudar de frequência de rádio, exige um preparo diário que nem sempre, por maior a formação e a informação que quem faz a notícia tenha, garante que as matérias sejam como exige quem irá vê-las, o peso da responsabilidade para com a palavra e para com a imagem é bem maior para os grandes formadores de opinião do que para pessoas comuns que não agem diretamente com as mídias como poderiam e, também por conta disso, acabam julgando muito e fazendo muito pouco...

#GloboMente

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

"E, se a estrita monogamia é o ápice da virtude,

então a palma deve ser dada à tênia solitária que, em cada um dos seus cinquenta a duzentos anéis, possui um aparelho sexual masculino e feminino completo, e passa a vida inteira coabitando consigo mesma em cada um desses anéis reprodutores." Engels, 1981.

domingo, 6 de outubro de 2013

"O amor verdadeiro não é uma escolha nem uma liberdade.

O coração, sobretudo o coração, não é livre. É o inevitável e o reconhecimento do inevitável. E ele, na verdade, nunca amara com todo o coração a não ser o inevitável". (Albert Camus, O Primeiro Homem, 1960).

sábado, 5 de outubro de 2013

me xinga, me grita,

me bate, me late
me morte, me belisca,
me arranha, me revista,
me rende, me prende,
me esfria, me esquenta,
me solta, me sente...

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Válter Di Láscio.

Você quer comprar minha poesia? Como você compra esse negócio que você vai jogar no vaso sanitário daqui a pouco e não compra minha poesia? Você sabe o que é morar na rua?! Você não sabe o que é morar na rua! O dinheiro é meu ou é seu? Você sabe quem é esse cara? Subcomandante Marcos? Que camisa é essa? Faça a sua revolução? Honre a camisa que você usa cara. Você sabe o peso dessa camisa? Eu vi um cara que tinha um "A" na mão e perguntei: você sabe o peso que você leva na mão cara? E que peso! Eles não me deixam vender minha poesia. Onde vou vender? No show do Calcinha Preta no Parque do Vaqueiro? Ah, vai tomar no cu! Se eu for gay ou não, é da sua conta? Você tá com ciúmes? Eu não quero mais o seu dinheiro, seu mão de vaca! Eu não preciso disto! A minha mãe? A minha mãe tá junto com a tua num puteiro filho da puta! Me respeita, por favor. De coração... sai de perto de mim. O meu pé é meu ou é seu? Essa cachaça é minha ou é sua? Quem comprou? Por que você não se preocupa com a sua vida? Vai tomar no cu! Eles querem que eu diga isso pra eles, mas eu não vou dizer. Cala a boca, por favor. Por que você quer falar comigo agora? Quando eu quis você ficou calada. O negócio é sexo, drogas e rock'n'roll! No lançamento do meu livro vou fazer uma festa que terá o exame pró-álcool na entrada. Só entra quem estiver chapado! Um blues e um rock'n'roll acústico! Eu gosto de música de qualidade. Você sabe onde eu moro? Sim, no terminal. Faz tanto tempo que eu nem sento em uma cama. Meu nome? Pode me chamar como lhe convir. Quer comer uma flor também? É um pouco amarga. Quer colocar álcool aqui, por favor? Bebe isso! Eu não tenho fogo. Ei cigarreiro! Vai tomar no cu! Você é um burguês! Quando você chegar em casa, você tem a sua caminha, a sua comidinha... você sabe o que é morar na rua? Você acha que eu vendo poesia por que eu acho bonitinha? Você acha que eu gosto dessa bermuda? Acha que eu ando com essa bermuda suja por que tá na moda? Eu odeio essa bermuda, mas eu só tenho ela! Vai se foder seu pequeno-burguês!

Março/2004.

Válter Di Láscio no Cantinho da Filosofia da UECE.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

"Futebol é inteligência em movimento". (Albert Camus).


Albert Camus i el futebol.

Para ler ao som dos paulistas do Ultraje a Rigor.

"O melhor que aprendi sobre ética e bons costumes devo ao futebol. Este, mais do que um esporte, é uma analogia de vida e, - assim, é um grande tema para as ciências humanas, inclusive para o direito". (Albert Camus).

O franco-argelino Albert Camus como goleiro do Racing, de Argel em 1930.


"O futebol é uma via de acesso a temas de alto valor, como a inclusão social e a desigualdade de oportunidades". (Albert Camus).

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Para quem ainda vier a me amar.

Quero dizer que te amo só de amor. Sem ideias, palavras, pensamentos. Quero fazer que te amo só de amor. Com sentimentos, sentidos, emoções. Quero curtir que te amo só de amor. Olho no olho, cara a cara, corpo a corpo. Quero querer que te amo só de amor.

São sombras as palavras no papel. Claro-escuros projetados pelo amor, dos delírios e dos mistérios do prazer. Apenas sombras as palavras no papel. 

Ser-não-ser refratados pelo amor no sexo e nos sonhos dos amantes. Fátuas sombras as palavras no papel. 
Meu amor te escrevo feito um poema de carne, sangue, nervos e sêmen. São versos que pulsam, gemem e fecundam.

Meu poema se encanta feito o amor dos bichos livres às urgências dos cios e que jogam, brincam, cantam e dançam fazendo o amor como faço o poema.

Quero da vida as claras superfícies onde terminam e começam meus amores. Eu te sinto na pele, não no coração. Quero do amor as tenras superfícies onde a vida é lírica porque telúrica, onde sou épico porque ébrio e lúbrico. Quero genitais todas as nossas superfícies.

Não há limites para o prazer, meu grande amor, mas virá sempre antes, não depois da excitação. Meu grande amor, o infinito é um recomeço. Não há limites para se viver um grande amor. Mas só te amo porque me dás o gozo e não gozo mais porque eu te amo. Não há limites para o fim de um grande amor. 

Nossa nudez, juntos, não se completa nunca, mesmo quando se tornam quentes e congestionadas, úmidas e latejantes todas as mucosas. A nudez a dois não acontece nunca, porque nos vestimos um com o corpo do outro, para inventar deuses na solidão do nós. Por isso a nudez, no amor, não satisfaz nunca. 

Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Porque tu me amas, eu não preciso de ti. No amor, jamais nos deixamos completar. Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.

O amor é tanto, não quanto. Amar é enquanto, portanto. Ponto. 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O Materialismo Dialético é uma ideia que os europeus inventaram

Para ler ao som dos paulistas do ABC Garotos Podres.

e que nem eles parecem acreditar mais, mas que os brasileiros fazem questão de insistir, talvez porque brasileiros querem ser mais eurocêntricos do que os eurocêntricos, o que não quer dizer que os neo-hegelianos de esquerda não devam ser mais lidos e levados em consideração, muito menos excluídos, mas que, a bem da verdade, Marx não é mais a última Coca-Cola do deserto, com o perdão do trocadilho capitalista, pois no fundo nem sequer os marx[i]istas ou marxianos e marxiólogos o levam mais tão a sério, além disso, parafraseando Pascal, "o coração tem razões que o Materialismo Dialético não conhece".

Karl Marx e Engels.