quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O espírito revoltado.

A falta de honestidade intelectual de alguns consiste em considerar ingênuo qualquer pensamento político que escape à cartilha neo-hegeliana. Entretanto, as políticas que se baseiam em filosofias da história sempre degeneram em sistemas concentratórios, burocracias que matam o espírito da revolta e as suas origens libertárias.

O esquecimento das origens da revolta faz a práxis política derivar para a servidão ou para a tirania. A partir deste esquecimento, o revoltado torna-se um revolucionário que deseja construir um mundo que não existe – e que por isso nega o mundo do qual nasceu sua cumplicidade coletiva contra a injustiça.

O espírito revoltado possui uma alternância entre a nostalgia de justiça e a consciência de sua impossibilidade em um mundo regido pelo acaso. No plano do conhecimento, isto significa desconfiar daqueles que descobrem uma lei da história e fazem desta lei um mandamento impiedoso que tudo ignora, já que o valor estaria na própria lei e só apareceria quando a curva dos tempos se completasse com a terrível ideia de uma civilização superior travestida de emancipação humana.

Todo movimento político tem como fundo uma revolta metafísica contra a injustiça primordial da condição humana e o esquecimento desta dimensão metafísica e ética faz com que as revoluções degenerem em tirania e, portanto, em uma injustiça secularizada.

Recusamos o messianismo ideológico do revolucionário mas também o niilismo do desesperado. O espírito revoltado tem consciência de que o seu engajamento tem limites e que portanto não trará nada melhor, mas somente outra coisa, pois ele não sonha com a perfeição do mundo.

Deus está morto em nossos corações mas a revolta daí decorrente não nos deve fazer esquecer que ela brota justamente do nosso apego às belezas & prazeres deste mundo e não da ruminação de um cotidiano mecânico & cinzento. Recusamos a resignação à injustiça social mas também a utopia de querer fazer reinar a justiça absoluta na história.

Ivan Kaliayev, O Poeta.


Nenhum comentário:

Postar um comentário